Não é novidade que o mercado está cada dia mais agressivo ou mesmo que a competitividade é o fator essencial para uma empresa se manter ativa, porém esse cenário está ficando cada vez mais forte, principalmente se observarmos as diversas crises econômicas que afetaram o mundo nos últimos anos, onde mesmo países que eram considerados sólidos economicamente foram drasticamente afetados e viram seu crescimento faceando a zero ou em processo de recessão.
No Brasil esse cenário não é diferente, e apesar de inicialmente não termos sofrido de forma tão expressiva com a crise de 2008, hoje a realidade bate a nossa porta com um grande risco de recessão, aumento de desemprego e aumento da austeridade devido a fatores internos, como má gestão governamental, mas também ligado a crises regionais na América Latina e no resto do mundo.
Com todos esses problemas é fundamental que as empresas se preocupem com o fator da competitividade e consigam aumentar o valor agregado em seus produtos e serviços. Durante vários anos para conseguirem atingir essa meta as empresas focaram em processos de Lean Manufacturing ou Produção Enxuta, que trabalhavam principalmente em seus processos produtivos, onde com a utilização de ferramentas reconhecidas, atingia-se o objetivo de otimização e reduções de custo que acabavam por melhorar os resultados.
Logística: A chave para melhores resultados
Porém, estamos entrando em uma fase onde grandes empresas já estão com um certo equilíbrio em seus processos, e agora precisam inovar na busca por novas alternativas para manter a competitividade, surgindo então a necessidade de trabalhar em outros potenciais processos e fluxos para poder extrair melhores resultados, dentre esses potenciais setores está a Logística, que por anos era tratada apenas como um departamento suporte, hoje acaba ganha protagonismo por sua crescente importância.
Num contexto onde a cadeia logística nacional é subdesenvolvida e depende de sistemas, em sua grande maioria muito caros e extremamente saturados, aliado a um alto custo de mão de obra e uma das maiores cargas tributárias do mundo, acabam tornando todo o processo logístico muito complexo e por consequência representando grande parte do custo das empresas. Estima-se que no Brasil haja um custo logístico total de aproximadamente 11,7% em relação ao PIB, segundo o ILOS (Instituto de Logística e Supply Chain), enquanto nos EUA esse custo chega a 8,7% do PIB Americano, que proporcionalmente é muito inferior.
Esses fatores em conjunto com a concorrência com empresas estrangeiras de países como China, Coréia do Sul e outros, que conseguem ter um custo baixíssimo de produção e muitas vezes colocam produtos no mercado por menos da metade do preço, comparado aos produtos produzidos nacionalmente, tornam altamente necessário a existência de um planejamento logístico estruturado, fazendo com que a logística deixe de ser somente aquele setor operacional focado no atendimento das necessidades imediatas, para trazer uma visão mais sistêmica.
Assim a tendência para os próximos anos é que empresas que queiram reduzir seus custos e melhorar sua competitividade trabalhem de forma mais estruturada na cadeia logística, entendendo esse setor como parte fundamental do conjunto do negócio.
Construindo a Inteligência em Logística
Um dos primeiros passos para as empresas que querem estruturar a sua logística de forma mais inteligente, é entender quais são os principais fatores internos e externos que afetam os fluxos da cadeia logística. Essa estruturação começa pela realização de um planejamento que contemple a visão a longo prazo da empresa, percebendo quais os maiores problemas enfrentados atualmente, bem como as oportunidades de melhoria, definindo ações que devem ser implementadas a curto e médio prazo para se possa atingir determinado objetivo.
Para que o planejamento possa ser feito de maneira sustentável, deve-se definir uma pessoa ou um time responsável, a depender do tamanho da estrutura e tipo de negócio, com responsabilidade clara, que atue em processos de melhoria contínua e também na implementação de inovações com foco em logística.
Esse time deve trabalhar na realização de um planejamento de todo o processo, com certa antecedência, olhando toda a cadeia de suprimentos, desde a entrada da primeira matéria-prima, até a entrega ao consumidor final daquele produto ou serviço, e muitas vezes no processo de logística reversa, o que exige uma atenção maior em todos os fluxos.
Algumas empresas tentam mesclar o time de melhorias ou engenharia de processos com a logística, porém isso pode ser um erro se os mesmos não forem capazes de identificar o fluxo logístico, que na maioria dos casos começa muito antes do processo de fabricação em si. Outro erro cometido por algumas empresas é achar que o time operacional ou mesmo que os responsáveis pela rotina de logística inbound e outbound, serão capazes de atuar ao mesmo tempo no planejamento mais estratégico, olhando melhorias e projetos futuros, isso acaba por sobrecarregar o trabalho do time, que sempre vai focar no dia-a-dia, onde os problemas são mais evidentes e imediatos. Assim é necessário que todas as tarefas sejam muito bem definidas com seus responsáveis.
Aliando a experiência do dia-a-dia com o conhecimento técnico
Uma das estratégias que são bem reconhecidas em empresas de grande porte é a criação de uma área de Inteligência Logística ou Engenharia Logística, que alia os conhecimentos de um time técnico, com a experiência do dia-a-dia da operação logística, diversos players do mercado, como industrias de bens de produção, bens de consumo, entre outros, além é claro de empresas de serviços de logística, já estão construindo a área de Inteligência Logística para atuar em melhorias de processos correntes e implementação de novos processos e inovações.
Porém uma grande dificuldade na estruturação desse time de logística avançada é encontrar profissionais formados e capacitados para atuar nessa função. Apesar de não existir um curso de graduação que forme plenamente um profissional com essas características, a formação em Engenharia de Produção é a mais próxima, que possibilita uma visão sistêmica da logística, porém mais focada na indústria. A solução encontrada então é realizar o aproveitamento interno de colaboradores que possuam uma boa experiência em logística e perfil para atuar nesta função, podemos citar como exemplo a empresa Vale, que criou um centro de treinamentos em Engenharia Logística, para formar seu pessoal interno com as ferramentas de gestão de processos logísticos e melhoria contínua.
Existem ainda diversas instituições que oferecem cursos de pós-graduação na área de Gestão de Logística, Engenharia Logística ou mesmo cursos técnicos de melhoria contínua aplicada a logística, que podem complementar a formação do colaborador.
Porém o mais importante é que as empresas identifiquem se existe esse GAP em seu processo e a partir daí tome a iniciativa de mudar, pois em um mercado tão agressivo e com crises que vão e vem a todo o momento, somente aqueles que saírem na frente e inovarem estarão competindo a médio e longo prazo.
Fonte: Blogística.
Alexandre da Silva - Especialista Logístico de obras.